Aquele momento em que te apercebes que o Mundo é simplesmente maravilhoso, aquele momento em que te tornas grata pela saúde, alegria e felicidade de respirar e sentir o vento. O ar puro e a magia de ser livre e independente. Existem lugares que nos trazem paz de espírito e observar esta beleza, traz serenidade e gratidão.
Hoje chamaram-me para apoio psicossocial a alguém que se deu conta da sua finitude. Alguém que chorava por não se puder levantar, pois teria condições clínicas que não o permitiriam... Alguém que me disse só querer observar da janela a beleza do exterior. E eu senti vontade de a carregar no colo até um lugar assim e deixá-la respirar o ar, ver a paisagem, ficar o tempo que necessitasse. . porque a morte quando vier leva-nos de qualquer jeito...
A minha profissão possibilitou-me estar perto de pessoas em fim de vida, que sofrem doenças crónicas e de famílias exaustas, incapazes de dar mais. Existimos para lhes proporcionar algum suporte e qualidade de vida, nem que seja na morte. E há tanta vida na morte! Tive necessidade emocional de escrever, quer porque temo perder as lembranças, quer porque são demasiado significativas para partirem, comigo, na minha finitude. Aprendi que não se deve antecipar nem atrasar a morte, mas também a vida!