A minha profissão possibilitou-me estar perto de pessoas em fim de vida, que sofrem doenças crónicas e de famílias exaustas, incapazes de dar mais. Existimos para lhes proporcionar algum suporte e qualidade de vida, nem que seja na morte. E há tanta vida na morte! Tive necessidade emocional de escrever, quer porque temo perder as lembranças, quer porque são demasiado significativas para partirem, comigo, na minha finitude. Aprendi que não se deve antecipar nem atrasar a morte, mas também a vida!
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
A frase mais ouvida nas mulheres...
Se realizasse um estudo, diria que cerca de 80% das mulheres que acompanhei me disseram a seguinte frase:
"se soubesse o que sei hoje, nunca me teria casado!"
Já os homens sentem imensas saudades das esposas e falam delas com carinho... isto faz-me pensar... por um lado acho que o facto da grande maioria delas, ter mais de 65 anos, relatam uma relação imposta e que serviu ou para fugir dos pais, ou porque estavam na idade... os motivos são variados e nunca falam em amor. Passaram vidas a ter filhos e sem conhecerem a pessoa com quem viviam, aliás chegam à conclusão que nem gostavam deles. Todas se arrependem do facto de quando se, finalmente, libertaram deles, ou já era tarde, ou estavam doentes. Nenhuma quer voltar a passar por isso, todas dizem que teriam mais liberdade, que teriam vivido melhor solteiras.
Eu gosto de acreditar no amor, na relação conjugal, não por dependência, mas por vontade de estar juntos, por partilha. E fico enternecida ao ouvi-las, entendo os seus motivos neste desabafo e penso que a sociedade felizmente mudou. Acho que na base está a educação e a crença de que as mulheres deveriam servir os maridos, que necessitavam deles para criar família e ter alguma independência. A maioria descobriu que era uma falsa realidade, que são capazes de subsistir sozinhas, que aliás eles acabam por lhes gastar as economias e as tratar mal. Dessas, cerca de 50%, perdeu filhos pequenos, devido à precariedade de condições de saúde e higiene. São relatos de vidas sofridas, provavelmente serem solteiras tê-las-ia poupado a alguns desgostos. Muitas queriam ter estudado, mas o casamento era a única opção. Muitas foram manipuladas pelas mentalidades e mitos sociais, outras porque era a única forma de sobrevivência, mas ao ouvi-las de uma coisa tenho a certeza, nunca deixaram de sonhar. Nunca deixaram de ser elas, fizeram o seu papel o melhor que podiam e foram atrizes excepcionais, hoje, ali numa cama do internamento sentem-se livres, já ninguém é seu dono e senhor. Sonham como a vida teria sido sem a outra pessoa e a verdade é que percebem... bem no final da sua existência... que afinal nunca precisaram de ninguém, que a melhor companhia é a sua própria.
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