Com cancro do estômago, diagnosticado há 10 anos, estádio IV- fase terminal, internado numa Unidade de Cuidados Continuados.
Casado com Amélia, desde os 22 anos, 3 filhos emigrados e um neto que reside perto.
Numa das nossas tardes de conversa. Diz-me ele:
-Sabe, nesta fase da vida, pensamos naquilo que não fizemos, no tempo que perdemos e no que nos falta fazer. Trabalhei muito, se soubesse o que sei hoje, tinha saído mais. Ainda por cima nem os filhos tenho por perto.
-Tem o seu neto Pedro
-Pois tenho e é o meu orgulho, robusto como eu, pelo menos como eu era (ri-se) e gosta de comer bem. Também eu gostava, agora com este tubo nem sinto o sabor da comida.
-Às vezes as enfermeiras deixam-no comer um bocadinho para saborear, que eu vejo.
-Pois é, mas isso lá é comer? Eu sempre fui homem de prato cheio, podia fazer um roteiro dos melhores restaurantes de Portugal, de norte a sul conheço-os todos.
-Foi camionista, passou a vida na estrada.
-Sabe, eu não culpo este cancro… o tipo tinha bom gosto e eu ia-o alimentando.
(rimo-nos)
-O que vale é a boa disposição, não é Sr. António? Mas dizia-me há pouco que tem pensado nas coisas que não fez.
-Pois tenho e sabe o que gostaria? Sonhei ontem com isto, você é muito nova e não se deve lembrar… mas havia um filme em que o ator dançava na chuva e saltava a cantar o seu amor.
-sim sei
-nunca dancei na chuva, aliás toda a vida fugi dela. Sempre com pressa, detestava conduzir na chuva e agora penso que podia ter sido mais carinhoso e mais presente para a Amélia... Sempre foi uma boa esposa.
-isso é muito bonito, devia dizer-lho.
-para quê? Já não somos jovens… O tempo já não volta e a chuva.... agora... só a vejo da janela. Escreva lá isso e diga-lho você.
Numa das nossas tardes de conversa. Diz-me ele:
-Sabe, nesta fase da vida, pensamos naquilo que não fizemos, no tempo que perdemos e no que nos falta fazer. Trabalhei muito, se soubesse o que sei hoje, tinha saído mais. Ainda por cima nem os filhos tenho por perto.
-Tem o seu neto Pedro
-Pois tenho e é o meu orgulho, robusto como eu, pelo menos como eu era (ri-se) e gosta de comer bem. Também eu gostava, agora com este tubo nem sinto o sabor da comida.
-Às vezes as enfermeiras deixam-no comer um bocadinho para saborear, que eu vejo.
-Pois é, mas isso lá é comer? Eu sempre fui homem de prato cheio, podia fazer um roteiro dos melhores restaurantes de Portugal, de norte a sul conheço-os todos.
-Foi camionista, passou a vida na estrada.
-Sabe, eu não culpo este cancro… o tipo tinha bom gosto e eu ia-o alimentando.
(rimo-nos)
-O que vale é a boa disposição, não é Sr. António? Mas dizia-me há pouco que tem pensado nas coisas que não fez.
-Pois tenho e sabe o que gostaria? Sonhei ontem com isto, você é muito nova e não se deve lembrar… mas havia um filme em que o ator dançava na chuva e saltava a cantar o seu amor.
-sim sei
-nunca dancei na chuva, aliás toda a vida fugi dela. Sempre com pressa, detestava conduzir na chuva e agora penso que podia ter sido mais carinhoso e mais presente para a Amélia... Sempre foi uma boa esposa.
-isso é muito bonito, devia dizer-lho.
-para quê? Já não somos jovens… O tempo já não volta e a chuva.... agora... só a vejo da janela. Escreva lá isso e diga-lho você.
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