Ecologia social

Hoje este foi o cenário, de um dia onde o fogo nos rodeia, onde o ar é pesado e o sol não brilha. Hoje encontrarmo-nos em apneia, em dificuldade respiratória e com um sofrimento na alma. Tudo arde, alguns dirão que é só mato, poucos saberão o valor dessas palavras e o seu peso. O sentimento é de preocupação, é de dor. Em partilha social dizem os antigos que nunca viram algo assim, que o fim do mundo se aproxima. Hoje, ainda que de um modo figurativo, diríamos que nos encontramos em fase de agonia, nos últimos momentos. Que venha a chuva e alivie este sofrimento, que venham medidas legais que responsabilizem os culpados, que venham incentivos e prémios para quem cumpra e que a esperança renove os solos e as pessoas se unam para reflorestar as paisagens. Que façamos mais do que falarmos e criticarmos. E que, tal como nos cuidados paliativos, que do sofrimento nasça algo de bom.

Um lugar ocupado no coração de alguém...

Não penso ser insubstituível mas pensei que ocupasse um lugar só meu, pensei que onde passasse deixasse algo de meu, por isso se chama entrega, por isso nos"damos" ao outro.
Pensei que permanecesse...

A mais dura verdade:

-A vida não pára à tua espera.


Esta é uma tradução do sentimento para quem existe, vivendo de memórias e sem espaço na vida dos outros.

O dia em que abres mão dos sonhos é o dia em que desistes.

Numa manhã, no internamento, chamada para uma situação de insónias persistentes, que nem com medicação reverte, quadro de agitação noturna e humor deprimido.
Pergunta-se em jeito de segredo:
-Realizou tudo o que desejava, nesta vida?
A senhora ri e diz:
-não menina, uma peixeira de estendal não tem tempo para sonhos.
-trabalhou muito...
-sim e amei pouco, vivi pouco, fui deixando para quando juntasse algum, depois para quando os meus pais estivessem melhores, depois os filhos crescer e só agora aqui na cama, tenho tempo para pensar em mim. Uma vida é pouco...
(Silêncio)
-Uma vida é pouco?
-Passei a vida a dormir.
-Por isso não dorme agora?
-Sei que não vou compensar o tempo perdido, mas queria estar junto ao meu mar.

Foi transferida por aproximação à área de residência, da janela do novo quarto via o seu mar e de noite adormecia com o seu som, nunca mais teve insónias.