quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Por mais amor assim....

Escrevo triste e com a necessidade de colocar cá para fora a revolta, estou farta deste vírus,estou farta destas regras, estou cansada que o usem como desculpas para a irresponsabilidade, a negligência e a desumanidade. 

Hoje não quero saber da minha profissão, do cargo que ocupo e nem das orientações da DGS, OMS, ISS, ARS norte e o raio que os parta. Hoje quero ser humana e quero apenas sofrer com esta injustiça e não me venham dizer que a vida não é justa, pois a morte também não o é!!!

O vírus tirou os últimos meses aos maridos, esposas, filhos e netos. Tirou as últimas palavras, os últimos risos e os últimos afetos às pessoas que estão internadas, seja em hospitais, unidades de cuidados continuados e lares. O vírus veio ainda tirar o direito á despedida social, á homenagem e ao luto. Este vírus tirou a possibilidade de se verem pela última vez. Famílias enterram seus entes em sacos fechados, com urna encerrada e para aqueles cuja saúde mental seja mais vulnerável, iremos ter lutos arrastados, ideias delirantes e persecutórias de que aquele não era o seu ente. Vamos prolongar no tempo a fase da negação. 

O que se ouve nas instituições "as famílias são chatas", "as visitas ocupam tempo e obrigam a procedimentos", "as videochamadas não podem ser depois da hora e têm que ser limitadas no tempo com agendamento prévio" Ninguém tem tempo para essa lamúrias e para os outros. 

"Hoje não dá que não temos pessoal", "hoje não dá porque temos pessoal a mais". Este vírus foi até bastante conveniente para quem olha para o outro como um conjunto de tarefas...

Mas também veio mostrar que o amor tudo pode, que o amor contorna as regras e que se não se abrem as portas abrem-se as janelas. Em tempos excepcionais, medidas excepcionais. Esta imagem é de um esposo que através da janela consegue falar com a sua mulher que se encontra em isolamento a cumprir quarentena, porque foi a uma consulta hospitalar

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