Há dias estranhos, aqueles em que era suposto tudo dar errado mas no meio do caos surge a esperança. Hoje subi ao internamento e era dia de me dedicar á faturação. Nesta ida fui ficando envolvida numa atividade que me estava a dar alguma satisfação pessoal, (e que já não sentia há alguns meses): o prazer da companhia dos utentes. As suas conversas, a sua energia e a melancolia de não ter tempo para eles. Fui falando e conversando e eis quando a meio de uma troca de poucas frases a D. F. da cama 2 me diz:
-sabe há gente que nunca devia morrer. E a menina é uma dessas pessoas. O mundo seria melhor com mais gente assim.
-assim como? - perguntei
-Com a sua forma de estar, de falar. Ninguém nos fala assim!
E olhei com olhos de ver, a correria desenfreada dos corredores, a pressa de cumprir horário, de cumprir tarefas. Não era um dia com falta de recursos humanos, mas era um dia em que talvez tenham iniciado mais tarde, perdido algum tempo em assuntos paralelos, era quase hora do almoço... O telefone portátil do serviço tocava e ninguém atendia, estavam 3 pares de funcionárias a tratar do serviço e falavam entre elas de assuntos quotidianos do dia a dia... Não olhavam para os utentes, não conversavam com eles, conversavam entre duplas.
Acho que ela sentiu a minha saudade, a minha vontade de estar ali por eles, de os ouvir, de ser a psicóloga para que fui contratada e não tudo o resto.
Mas também eu já fiz dias a correr, quase sem os ver. Há alturas em que estamos tão deslocadas que não nos apercebemos do redor. Não acredito que as pessoas sejam mal intencionadas, acho que foi preciso eu estar afastada para estar mais próxima. E faz toda a diferença na forma como percecionam a nossa atenção. Gratidão 🙏
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