quinta-feira, 15 de junho de 2017

José, 75 anos.






Cancro do intestino, diagnosticado há 5 anos. Internado num estabelecimento residencial para idosos (ERPI), vulgarmente designado por Lar. Colostomizado, dependente total e a necessitar gradualmente de maiores cuidados de enfermagem.

Homem de intervenção, desde cedo envolvido em política, corporação de bombeiros e com um trabalho que adorava. Era electricista, responsável pelas primeiras iluminações daquela povoação. Costumava dizer que era conhecido por levar a luz às pessoas. E sim era uma pessoa de luz, que nos conquistava, sem percebermos bem o porquê.

A esposa, dedicada, vivia em função dele. Passava o maior número de horas possíveis ao seu lado, mesmo enquanto ele dormia, ela lá permanecia. Dizia-se que cumpria, ali, centro de dia.
As rotinas dos profissionais começaram a fazer parte das suas, usava os procedimentos de desinfecção e já sabia, diariamente, os produtos que eram usados e os hábitos de cada um. Percebendo que quem lá trabalhava usava socas, ela comprou umas pantufas que apenas usava ali. À chegada, ainda na entrada, trocava os seus sapatos pelas pantufas e seguia para o seu turno de esposa presente, que desempenhava como ninguém. Este casal era a personificação dos votos matrimoniais, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe”…

O carinho que aquela família transmitia e a união que tinham, era algo intenso. Sentia-se com os poros da pele, a necessidade que tinham de estar juntos, cada um, individualmente, era forte… mas juntos… era como se deixassem as máscaras cair e ficavam frágeis, como se ao entrar... ali no quarto... e nos braços do pai, voltassem a ser crianças. Ele tinha o poder de iluminar o que de mais genuíno existia em nós (não fosse ele electricista). Uma vez disse-me gostar do meu casaco amarelo, que sempre que o usasse me permitisse ser feliz. Pois de nada servia vestir uma cor animada quando se tem a alma apagada.

Ele era um líder e foi, até ao fim, um resistente…. não deve ser fácil deixar para trás tanto amor.

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