sexta-feira, 16 de abril de 2021

Jorge, 52 anos




Residente na zona do Porto, ex-toxicodependente de heroína, atualmente em regime de metadona. Referenciado por diabetes e úlceras de pressão, na realidade caso social. Na ULDM há 2 anos.
Chega tatuado nos braços e as mãos, com personalidade desafiante refere que as tatuagens com caracteres chineses são os nomes das pessoas que matou. Diz ter estado preso e que por alegada insanidade, associada ao consumo, foi libertado. Psicopata sem qualquer noção do outro. Diz querer sair e ter capacidade de se gerir sozinho. 
A técnica responde que tem acesso ao processo
clínico e nada daquilo corresponde ao real, pelo que o pode avaliar como desorientado, não podendo ter alta a pedido, se assim o desejar. 
Ele acede a responder à avaliação e recorre ao seu lado de manipulador. 

O problema destas referenciações é que os serviços vão passando os casos sociais de uma instituição para outra, até que tenham idade, doença ou meios suficientes para se tornarem finalmente elegíveis para uma resposta social. 
E muitas vezes tratam-se questões comportamentais e problemas sociais em unidades de saúde (física). Há necessidade de respostas que sejam orientadas para a saúde mental, que tem um vasto campo de complexidades. Estes "doentes" que são admitidos nas unidades, exigem o dobro da atenção e apesar de parecerem economicamente mais vantajosos, há toda uma panóplia de complicações que se propagam. Eles deambulam e descobrem facilmente os circuitos, horários e saídas. Eles mexem nos pertences dos outros utentes, funcionários e geram conflitos e mal entendidos que resultam da descoberta de que algo desapareceu. Eles falam com os familiares dos utentes e inventam histórias e boatos, levantando suspeitas e dando resultado a reclamações sem evidência. Eles podem abusar, maltratar ou ser agressivos para outros utentes, nos períodos de menor vigilância. E eles saem e colocam em risco toda a equipa e utentes. 

Uma pessoa com este tipo de personalidade é uma bomba relógio num local onde se prevê o internamento. A culpa não é sua, porque simplesmente está a ser ele próprio. 
Não se pode dizer que seja culpa dos serviços que querem vagar lugares, ou da inexistência de respostas, ou das profissionais que são impelidas a cumprir objetivos. A culpa morre solteira, porque os serviços não podem ser formatados e apesar de se estar direcionado para uma tipologia de clientes...  Lidamos com pessoas e sabemos que todos somos diferentes.
Por isso e apesar das dores de cabeça e estratégias que tenhamos que encontrar, temos
que ver a pessoa e tentar antecipar comportamentos ou pelo menos ir reduzindo o
risco, até que se encontre um lugar ideal... Ou a medicação ajustada...


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