quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Despedida

Sonhei tantas vezes com o dia em que tomasse coragem e partisse, não pensei que chegasse esse momento. 

Hoje parte de mim fica para trás, num projeto iniciado e que será mantido e crescerá longe de mim. Não me sentia suficiente, tentei e não tinha as forças e a energia para continuar. 

Tento processar agora o que aconteceu e as decisões tomadas... se errei foi por acreditar ser o melhor ... por sentir que seria o que devia ser feito.  Na distância de uma viagem e refletindo no pós despedida digo que dói. Mas que há leveza nessa saída. Fico com um sentimento de dever cumprido e apenas gratidão me acompanha. Pedi perdão se magoei alguém e a todos perdoei. Não guardo ressentimentos nem mágoas apenas uma nostalgia e saudade boa. Conheci muita gente nova, fiz amigos no caminho e em grande parte do caminho fui bem acompanhada. É fácil gerir uma equipa de gente competente é um orgulho ver o que conseguem quando estão motivados e felizes. Sempre os vi assim e sei que se havia conflito é porque queriam o melhor para o utente. 

Foi emotiva a despedida, foi a criação de uma resposta nova, foi a rotatividade de recursos que foi saindo, a pandemia cheia de normas e regras, as múltiplas exigências que se vão acrescentando, as perdas dos utentes ... tudo nos foi fortalecendo mas na base da luta e do sofrimento. Como diz a frase "realmente importa é quem temos do nosso lado na trincheira"!

Obrigada e obrigada 

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Se voltasse atrás no tempo


Às vezes gosto de fazer este exercício, como se ele resultasse em alguma diferença. Mas a ideia de que possa idealizar algo basta-me. Talvez queira pouco...talvez devesse ambicionar mais. Mas a ilusão de imaginar algo diferente parece ser suficiente para quem nada mais tem a esperar... Não sei se é conformismo ou forma de ser. Talvez seja adaptação. O humano adapta-se ao ambiente que o rodeia. 

Não é que te tenha esquecido e aceitado a realidade mas por incapacidade de fazer melhor, confesso que nos imagino que projeto uma vida paralela onde nós existimos juntos. É parvoíce e perda de tempo bem sei. Mas se isso me faz feliz por meros minutos deixa que seja, deixa que exista. 

E nesse mundo imaginário, platónico e surreal tu contínuas a amar-me e eu sou desejada por ti, como se precisasses de ar para sobreviver. Não quero a tua dependência, mas quero a necessidade de me sentir necessária. Sei que é triste demonstrar a minha solidão desta iniciativa, mas preciso de me sentir necessária para me sentir valorizada. Sei e entendo que tem raízes no passado, sei perfeitamente do que me falta e sei também que não tomo as melhores decisões, por vezes na dúvida da aceitação mas porque caminho sem um destino e deixo à mercê dos outros as minhas emoções. Precisava de tempo para decifrar o que sou e para onde vou, sem depender da opinião e consideração externa mas vivo apegada ao agradamento. Assim fui educada. A agradar a todo o custo como se isso fosse o decisor de quem eu sou, do que me define. Percebo hoje que depende de mim e do que eu queira no futuro. Mas e o que é?

terça-feira, 2 de maio de 2023

Gato escondido, de água fria tem medo...



Perdoa-me C. 
Hoje confesso a mea culpa, hoje enfrento a fragilidade de ser vulnerável. Durante mais de um mês tivemos um utente no internamento que saiu hoje por transferência para aproximação a área de residência e confesso que o evitei. 
Não por ele ou pela sua situação clínica, mas pelo facto de termos idades próximas. Quando alguém nos chega em fim de vida mais jovem do que nós ou da nossa idade isso mexe com o nosso próprio sistema de defesas e confrontar essa realidade parece que torna mais visível a nossa própria finitude. Confesso que o evitava por desconforto pessoal, por sentir que o iria incomodar e por medo de me afeiçoar talvez. Das poucas vezes que o visitei fui pelo aspeto funcional saber se precisava de algo ou porque me tinham chamado para resolver questões direcionadas com a gestão e serviços. Apresentei-me como psicóloga e perguntei se queria falar mas disse-me que não tinha interesse. Que estava farto de falar. Na maioria dos dias estava adormecido e por mais desculpas que justifiquem, sinto que lhe falhei como profissional, sinto que me falhei a mim a oportunidade de o conhecer. Mas é importante ver as coisas de frente e aprender a não cometer o mesmo erro novamente. Ter a noção desta fragilidade permite-me criar as ferramentas para enfrentar esta situação e fazer com que não seja um problema numa próxima abordagem. É importante perceber o que "mexe com a gente" porque apesar dos anos e dos danos, continuamos a ser, em relação. E também nós temos pontos a trabalhar.

Coincidência ou não...




A D. Lili partiu. A avó como tantos a chamavam decidiu ascender aos céus, sim ela foi de certeza para o céu. Era muito acarinhada e amada pelos filhos e netas. Era possível sentir nas videochamadas e visitas presenciais, esse amor. Mas a sua partida foi prolongada e em câmara lenta. Durante os últimos meses faziam-se chamadas de despedida e entre os familiares e equipa tentava atribuir-se um sentido ao dia em que ela partisse. Nós humanos procuramos sempre um sentido lógico para explicar os acontecimentos e pensou-se que estaria á espera do aniversário, ou do filho que viria, ou da data em que faleceu o marido... E sempre se iam lançando hipóteses para perceber o que a mantinha aqui. 
Fizemos a despedida com a autorização de partida em que os filhos e netas a autorizavam a ir e garantiam que iam ficar bem. Mas ninguém iludia a Lili e hoje percebeu-se que eles precisavam daquele tempo para iniciar o Luto.
Afinal acabou por partir exatamente um ano após ter tido o AVC e iniciar a sua demanda. A morte não tem explicação, nem espera pelo momento.... mas talvez seja mais fácil de aceitar quando encerra em si um sentido ou apenas uma coincidência... E afinal existem coincidências!? 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Ninguém


Quero gritar, quero rasgar a pele e anunciar aos sete ventos que não sou feliz. Que me quero evadir de mim, de quem sou, do que represento. Quero ser atriz e vestir a pele de algo simples, banal e abonatório de elogios, sem stress, sem responsabilidades, apenas e só isso simples. Ando exausta e não consigo colocar isso em palavras, tão ocupada ando que nem tempo para processar e reclamar me resta. Faz isto, faz aquilo, termina isto, envia aquilo, emite, digitaliza, assina, imprime, envia, recebe, e quando finalmente terminam estas tarefas, um novo mês inicia e com ele a repetição cíclica de tudo, alguns meses com maior intensidade. Ninguém tem noção da falta que 2 dias de fevereiro fazem num mês, como eu! Tudo mais condensado, mais comprimido e repete... Repete... Repete! 

Quero gritar, quero encontrar um equilíbrio. Sinto que não sou capaz, não sou competente, não sou suficiente. 

Sinto que preciso correr, gastar-me, rasgar as entranhas que anseiam por algo, por me sentir viva. Estou cheia de tarefas e agendas e tão só de mim própria. Encontro-me tão desencontrada de mim que não me reconheço, não me sinto, não me vejo. 

Por fora a imensa calma que transmito, contrasta com o vulcão que ferve cá dentro. Cada dia em maior ebulição. Não sei por quanto tempo subsiste esta resistência. Não sei sequer se resiste... Estou com imenso trabalho, acumulo as funções que eram de outras pessoas que saíram, em prol de uma causa, em prol de uma suposta poupança necessária para um bem comum... Mas o bem não chega nunca... As mentiras sobrepõem-se e nasce em mim a desilusão, a tristeza e o desespero. 

Não sou feliz, não me sinto bem.... Mas ninguém quer saber...

terça-feira, 8 de novembro de 2022

As doces palavras.



Há dias estranhos, aqueles em que era suposto tudo dar errado mas no meio do caos surge a esperança. Hoje subi ao internamento e era dia de me dedicar á faturação. Nesta ida fui ficando envolvida numa atividade que me estava a dar alguma satisfação pessoal, (e que já não sentia há alguns meses): o prazer da companhia dos utentes. As suas conversas, a sua energia e a melancolia de não ter tempo para eles. Fui falando e conversando e eis quando a meio de uma troca de poucas frases a D. F. da cama 2 me diz: 

-sabe há gente que nunca devia morrer. E a menina é uma dessas pessoas. O mundo seria melhor com mais gente assim.

-assim como? - perguntei

-Com a sua forma de estar, de falar. Ninguém nos fala assim!

E olhei com olhos de ver, a correria desenfreada dos corredores, a pressa de cumprir horário, de cumprir tarefas. Não era um dia com falta de recursos humanos, mas era um dia em que talvez tenham iniciado mais tarde, perdido algum tempo em assuntos paralelos, era quase hora do almoço... O telefone portátil do serviço tocava e ninguém atendia, estavam 3 pares de funcionárias a tratar do serviço e falavam entre elas de assuntos quotidianos do dia a dia... Não olhavam para os utentes, não conversavam com eles, conversavam entre duplas. 

Acho que ela sentiu a minha saudade, a minha vontade de estar ali por eles, de os ouvir, de ser a psicóloga para que fui contratada e não tudo o resto. 

Mas também eu já fiz dias a correr, quase sem os ver. Há alturas em que estamos tão deslocadas que não nos apercebemos do redor. Não acredito que as pessoas sejam mal intencionadas, acho que foi preciso eu estar afastada para estar mais próxima. E faz toda a diferença na forma como percecionam a nossa atenção. Gratidão 🙏


domingo, 6 de novembro de 2022

Nem 8 nem 80....


Percebi esta semana que nos podemos interligar ao sofrimento sem nos deixarmos ser consumidas por ele. A compaixão. Sentir empatia com o sofrimento, mas ter a capacidade de sair dele e vê-lo como algo externo a nós próprios. 
Em cada morte e história que escrevo, revia, em parte, os meus lutos, as minhas dores. Na maioria dos textos, o luto de um amor que terminou, mas me marcou... talvez para sempre. Revivia nestas vivências o sentimento da perda e do sofrimento que ainda restava. 

Percebo que são textos pesados e provavelmente aborrecidos para quem os lê com um outro olhar, de quem não viveu os meus passos... Também percebo que foram pequenos passos, que nunca dei o salto desejado para algo maior. 

"-Tens a dor, tens a reflexão sobre ela e a passividade de um conformismo atroz. O que vais fazer com o que sentes? Vais viver ou existir?" 

Percebi agora, que estas dores, só doíam em mim, porque a ferida estava aberta. 

Percebi que é preciso cuidar de mim, ter autocuidado e autocompaixão. E sigo as palavras da filosofia hoponopono:

"-Eu sinto muito, eu me amo, me perdoo, sou grata".

Juntei as coisas que tinha nossas (quis a vida que as tivesse que juntar) e li, revi, chorei, sofri. No fim queimei o que ia fora e guardei apenas pedaços bons da saudade. Da taça com cinzas enterrei-as num vaso e plantei umas sementes. Enviei todo o amor e gratidão e sei que irão brotar bons frutos. Agradeci e acho que fiz o ritual necessário para a catarse. 

Das histórias de perda e morte do trabalho percebi que o limite é o respeito pelo outro e que a compaixão me permite manter a minha sanidade mental.

Estou a uns passos do que era... continuo a caminhar... E sinceramente espero nunca me tornar indiferente ao sofrimento do próximo, separando entre o que é meu e o que é externo. Sentir com ele e nunca por ele.  

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Um pote de cinzas...




Hoje escrevo sobre o facto de algumas pessoas viverem a vida e no final não terem ninguém para compartilhar os seus sofrimentos. É doloroso pensar que mesmo pessoas que foram mães e são avós, vivem os últimos dias sem o conforto de um colo, sem o contato de um familiar. Nesta Unidade existem até ao momento três mulheres que não têm ninguém de familiar como referência. Cujas decisões de enterro e diligências finais couberam aos elementos da equipa. Os nossos três potes de cinza, com histórias, com rosto, com tanto amor para dar. Perguntamo-nos os motivos que levam a este desfecho, que consequências de vida estarão a sofrer, sem julgamentos, apenas com espanto pela impavidez e dura frieza com que o fim de vida as trata. Para nós foram e são importantes, mas é triste e melancólico ser confrontado com esta finitude tão real. Não somos nada... Lembra-te que és cinza e a cinza tornarás...

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Eu e os eus de mim





Sei que estás, mas não estás, sei que gostas da emoção de me interromperes. Como se precisasses ter a certeza que ainda penso em ti, que ainda te amo. Não és do presente, nem tão pouco do futuro és apenas uma miragem de um passado distante. Com um toque, com um jeito fazes acordar todo o fogo que arde em mim. Não quero ser sentida por ele, queria ter mais controlo. Não te queria sentir tanta falta como sinto. Tanto arrependimento como sinto. Tanta saudade de ti. Tanta saudade de mim.

Não, não és tu. É a minha carência, a minha solidão. A necessidade de ser tão só e necessária. A utilidade do verbo ser, ter e viver. A tão fraca e vulnerável fragilidade de não ser, não ter, não viver... Sou depressiva, porque contigo ficou parte do que fui, de quem era... Tento dar mais, tento sempre tentando sem quebrar, mas quebro. Não estou bem. Mas vou aguentando.

Não fui ensinada a dizer não. Para mim que acredito em empreendedorismo, criatividade e inovação não existe a capacidade de negar a possibilidade de algo acontecer, então digo sim, eu faço, eu resolvo, eu penso, eu arranjo forma. E fico horas a mais, faço o trabalho dos outros, o meu fica para depois, e vou ao fim de semana, e limpo a casa de madrugada, assisto séries de madrugada, adormeço os miúdos, tomo banho com os miúdos, vamos a feira e levamos a vizinha e a prima e é preciso um papel e eu trato, e ele precisa de ajuda e eu vou... Até que um dia o corpo desliga e simplesmente, como se de um computador se tratasse, ele reinicia. Sim desta vez voltou, mas podia ter sido pior. O desmaio foi amparado e prontamente socorrido, mas podia não ter voltado... e essa pessoa estava a trabalhar para os outros, deixando 2 crianças por criar, um mundo de sonhos por realizar, os anos de velhice prometidos no altar e uma tristeza na família mais próxima. 

Texto sobre a dificuldade em conciliar a vida profissional com a familiar. Texto sobre uma mãe, esposa, dona de casa e diretora, psicóloga, administrativa e "faz tudo" á beira do colapso nervoso. 





O dia que o padre chorou.


Se o amor fosse uma cor, ou um desenho, um sentimento... É difícil descrever tal definição, o dicionário certamente o fará e por mais do que uma forma, no entanto eu quero falar do verdadeiro amor. Daquela sensação que se transmite nos poros da pele e que nos arrepia com tamanha imensidão. Não, não falo das borboletas no estômago, nem de uma constipação. Este é o amor de mãe e filhos, incondicional, ao ponto de fazer chorar o Sr. Padre. 

Numa das chamadas "visitas de despedida" foram contatados os familiares mais diretos para uma senhora dos seus 92 anos, linda, de pele clara e cabelos de prata. A senhora já estava na fase de agonia, com respiração mais ofegante e aguardava que seus filhos chegassem. Medicada para as dores, estava num quarto individual para dar mais privacidade a esse momento. O filho e duas filhas chegaram e subiram onde a abraçaram, beijaram e autorizaram a partir. Passado pouco tempo, uma das filhas achou que seria importante a mãe ter o seu momento de absolvição dos pecados e pediu que o padre viesse para efetuar a extrema unção. Foi feita essa articulação mas o senhor padre estava numa reunião no Município e não teria o material necessário, pelo que iria á sua residência para os buscar e assim que pudesse viria ao seu encontro. 
 

Não tardou uma hora, assim que chegou subiu ao quarto e precisamente 2 minutos antes a senhora havia ascendido aos céus. O Sr. Padre parou, respirou fundo e deu os sentimentos á família. Num ato de pura humanidade começaram a cair lágrimas do seu rosto, enquanto pedia desculpas por não ter chegado a tempo. A equipa que estava presente deu as mãos em uníssono e juntos rezamos pela sua alma. Nesse momento deixou de haver enfermeiros, cuidadores, auxiliares ou diretora... fomos todos, apenas e só irmãos. Irmãos em Cristo e em luto por uma mãe que havia partido. 

Foi um dos momentos mais marcantes que vivemos em equipa. A imagem representa o bem que pode vir das nossas ações. Ninguém sabe a dor que o outro carrega, mas até um sapato velho pode criar flores. 

Senhora solidão


É de noite, no silêncio na invasão dos pensamentos acendo mais um cigarro. Tornou-se o meu companheiro de insónias, o sopro de prazer nesta tão grande solidão. Está frio e enrolada numa manta vou a varanda... Passa um carro... Ouve-se um cão e o céu tem estrelas... É o meu momento de encontro com o universo, com o sabor do cigarro e as mãos ocupadas fico nesta dormência de um aconchego. Ajuda a passar o tempo, ajuda a que me sinta mais comigo. Faço esta pausa por prazer de um reencontro. Às vezes acompanho com um copo de vinho e parece que o prazer ganha uma luxúria. Sinto-me mais... Mais gente... Mais humana... Mais presente sem me sentir ausente.

Os meus filhos cresceram e já não me lembro da última vez que os vi, as minhas decisões foram erradas porque corri atrás de um amor, que teimava em partir. Hoje estou só, com o meu cigarro e um copo de vinho... Preciso desta "dormência saudável" para me sentir viva, mas que apague a dor de estar só. Talvez inconscientemente me esteja a castigar e a punir. Talvez inconscientemente ache que não tenho valor e o cigarro é uma via rápida para terminar esta dor. É como acelerar na autoestrada pelo prazer de correr riscos, de ser rebelde, de testar os limites do destino, ou de Deus ou do Universo.

M. F. (55 anos) internada numa ULDM com cancro do pulmão e metásteses espalhadas por todo o corpo. Recebeu o diagnóstico já no internamento. Viveu 3 meses, não voltou a fumar, pois encontrou na equipa uma família e um lar. Foi acolhida com muito amor e querida por todos. Na sua morte ficou um silêncio naquela casa. Descansa em paz ❤️

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

No silêncio

 


Às vezes a vida faz-nos parar, e nessa pausa repensas a tua existência. Analisas os ciclos em que te sentes posta em causa. É no sofrimento que aprendes as maiores lições de sempre. E nas noites com insónia, nos momentos de reflexão percebes quem és, de onde vens e para onde caminhas. Nem sempre o caminho que percorres é o certo para ti, nem sempre os trilhos definidos são os mais fáceis... Ninguém disse que a vida seria fácil, bem sei, mas a vida é mesmo assim... Um caminhar sem direção, um andar por andar em algumas fases, e noutros momentos há caminhos planeados com mapas e placas. Dizem que o melhor que levamos da vida são estas viagens, que não importa a chegada mas a viagem. Não sei se escolhi o grupo certo, ou se me foi imposto, sei que tenho pessoas boas e que me transmitem segurança, carinho e afeto... Mas também tenho pessoas más, que talvez me venham mostrar partes de mim que preciso melhorar. Às vezes apetece sentar na margem e deixar a vida passar, mas vem o frio, a fome, o medo e então temos que continuar a traçar caminho. Este dia ensinou-me que parar é morrer e enquanto houver vida é preciso caminhar, rastejar, arranjar forças, manter o movimento... Mas enquanto parei observei a natureza e fui contemplada com um pôr do sol delicioso, senti a brisa e ouvi o som do silêncio. Dentro de mim nasceu a vontade de seguir nesta maratona mais fortalecida, mais segura de quem sou e para onde vou, ainda que continue sozinha, sei que é preciso fazer esse caminho. A acomodação é um veneno, é uma falsa sensação de conforto. Sei para onde vou, portanto um dia hei-de lá chegar!!!

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Cabul

 



Inadmissível, injusto e cruel. 

Termos que utilizamos para expressar a revolta. Somos confrontados nos jornais e redes sociais com as tragédias mundanas e desumanas, constantemente bombardeados de sofrimento, como se o nosso próprio sofrimento diário não nos bastasse. Agora é Cabul que sofre, as mulheres principalmente, e, como espécime desse gênero,sendo mãe de uma menina esta vivência dói de modo particular. Não conseguimos ser subjetivos á dor e às imagens de pessoas que desesperadas se agarram ao avião, caindo posteriormente, com uma tal brutalidade e choque que chega a ser traumático assistir a este decorrer de cenas. Não se justifica que as pessoas erradas continuem a ascender ao poder e que seguidores imbecis ou irrefletidos os sigam. Não há mérito nesta ascenção e devia haver, a hierarquia de que tipo fosse devia ser precedida de avaliação psicológica e emocional. Devia haver um tamanho que medisse o coração e a intensidade do seu amor, compaixão e honestidade. Se o mundo fosse gerido com amor, seríamos todos mais felizes. 

Rezo pelas mulheres que encontrem a sua força e valor. Rezo por estes homens que não sigam ideais mas sim as suas mães, esposas e filhas. Rezo por este País que não se deixe iludir e tenha a coragem de perceber que às vezes o maior passo é perdoar e ser perdoado. Rezo para que o amor tome lugar no coração destas pessoas e de todos nós que assistimos impotentemente a este cenário de horror.